Mãe, doce mãe .

 

Mãe é quem nos carregou no seu útero durante nove longos meses e nos põs neste Mundo. Sempre invejei as relações que as minhas amigas têm com as suas mães. Talvez seja de mim , talvez por ter o feitio que tenho esta relação nunca tenha corrido bem. Eu sei que me amava quando eu era pequenina , tenho essas recordações guardadas, um pouco difusas mas ainda assim presentes. Lembro-me do papá filmar cada paçinho que eu ou mano dávamos - fosse natal, carvanal ou aniversário . Quando se é uma criança indefesa , é impossivel não sermos amados.

 Entretanto a criança cresce, começa a ter as suas opiniões sobre o que a rodeia, a contrariar os pais, a preferir a companhia dos amigos á familia. Pelo menos, foi isso que aconteceu comigo. Desde cedo me achei grande, dotada de uma maturidade maior que os que rodiavam. Acho que a minha mãe não me soube agarrar, talvez não quisesse que crescesse. No 6º ano já lhe dava dores de cabeça, lembro-me bem. No 7º tive a minha primeira relação , namorava com um amigo de 16 anos . Hoje olho para trás e penso como é que ele teve a coragem de namorar com uma simples miúda de 13 anos. No 8º encantei-me com um rapaz do grupo de teatro e acabei com ele para viver uma paixão com este novo segredo. Tal e qual como a paixão se retrata, não durou muito. No 9º ano, fui supreendida com o meu primeiro grande amor de Verão - estupidez inata, mas foi a primeira pessoa que amei . Dei-lhe tudo o que podia , fiz por ele tudo o que estava ao meu alcançe. E como se nada fosse, ele escolheu deixar-me e eu vi todos os meus sonhos a desaparecer por entre os meus dedos .

 Lembro-me tão bem dessa noite, cheguei a casa , tranquei-me no quarto e deixei-me ficar no escuro a chorar na esperança que ele voltasse. Ela entrou no quarto, olhou para mim e disse : mais vale chorares que andares por aí a fazer merda. Odiei-a, como tantas outras vezes . Existiram momentos em que eu só queria que ela me abraçasse, me ouvisse e podesse dizer que ia ficar tudo bem. Uma vez passei uma tarde em casa de um amigo meu que tem 18 anos e a minha mãe foi a casa dele , falar com os pais dele, por ele ter 18 e eu ter ficado sozinha em casa com ele. Foi horrivél, nunca me senti tão mal na vida.

 Acho que ela nunca soube ser mãe, nem tentou sê-lo. Vejo-me nela, somos iguais, mas eu sou mais forte. Ela não soube crescer, apesar do corpo que carrega lhe dar uma imagem de quem já tem experiência nesta vida. Ela tem , apenas não como mãe.

 Há um ano para cá , apaixounei-me a pouco e pouco . Não queria , mas voltou a acontecer e eu voltei a dar tudo de mim , desta vez sem qualquer medo . Fiz os meus planos de menina, os meus sonhos de mulher, os meus momentos de criança . Passados dois meses e duas semanas ele abandonou o meu Mundo e eu chorei . Chorei durante 4 longos dias até que bati o pé e disse: não , chega . Hoje ainda choro, mas não como antes. Não compulsivamente como se a culpa tivesse sido minha. Passei por tudo isto , cresci tudo isto, sem que ela visse, sem que ela soubesse .

 Hoje o avô sentiu-se mal, foi parar ao Hospital durante a madrugada e acordei sem a mãe e o pai em casa. Liguei-lhe e disse-me várias vezes: eu não sei o que vai acontecer, eu não sei. Senti-me insensivel nesse momento, o meu avô estava mal e eu não consegui derramar uma lágrima que fosse. Quando chegou a casa, abraçou-se a mim, lavada em lágrimas e eu apertei-a contra o peito e disse : Tem calma , o avô é forte. Ela chorou, sem nunca me largar e saiu do quarto.

 Não posso cair, não posso ser fraca, tenho de ser forte, por mim e por todos.

 

 

 

sinto-me:
publicado por Lébasi às 19:36