Dados

Olho-te fixamente de um ponto onde tu não me vês. Não é a primeira vez que sobressais da paisagem em meu redor, mas nunca parei para pensar no porquê de assim o ser. Olho-te, não me olhas. O teu riso ecoa por entre a brisa que o vento nos dá, voa com ele até mim e eu sorri-o sem pensar.

 Não pensei em nada, não supus um relacionamento, um beijo, um abraço, um olhar, uma troca de palavras. Não o fiz. Olhei somente. Percorri cada traço do teu rosto decorando todas as imperfeições que te tornam tão único. Caracóis, seduzes-me sem saber.

Lanço os dados sobre o chão e procuro respostas. Tudo aquilo com que posso contar denomina-se “sorte”. Domina a vida, umas vezes mais do que gostaríamos, outras tantas aceitamos a derrota dos acontecimentos inegáveis e seguimos em frente sem questionar o porquê. Procuram-se razões que o azar não discute e a sorte não condena. Procuram-se, mas não se encontram.

Oiço os rebolar no chão de alcatrão. Caíram sobre as linhas do parque de estacionamento, mesmo onde se encontra a árvore da qual te avistei pela primeira vez. Eu ouvi-os rodopiar. Um, um, dois, quatro, cinco, três, seis, seis, quem sabe. Talvez a sorte esteja do meu lado, talvez não. Fecho os olhos e rodopio sobre mim mesma tal criança endiabrada.

Deixei os dados para trás, caminho na direcção oposta. És de um mundo que não o meu. Não quero ver os dados porque se o azar estiver do meu lado, a tristeza unir-se-á a mim novamente. Não, desta vez, caminho sem ver e observo-te sem saberes. Mas não te preocupes, eu decorei o caminho.

publicado por Lébasi às 12:09