Partida.

Sabes aquele mar de que me falas? O do imenso azul que nos rodeia? Acho que o encontrei. Sim, é mesmo isso. Entrei no barco que estava no porto. A madeira estava toda marcada pelas rochas onde este embateu. Toda a sua proa estava pintada de branco, transmitia pureza. Mas havia uma linha preta que o delineava. Percorria todo o barco, era simples. Tão simples, tão fácil e tão acessível. Recordo-me de ter olhado para trás antes de entrar. Procurei por ti. Olhei para os carros que estavam estacionados ali perto na ânsia de te ver, até mesmo naquele bar de pescadores. Quando entrei, ficaram todos a olhar para mim. Olhei para um deles nos olhos, foi como que se tivesse entrado na sua mente. Tenho a certeza que se perguntara o que uma jovem como eu fazia ali. Olhei em volta, e tu não estavas. Virei o corpo para a porta e caminhei. Avistei o mar, daquela porta. Passou-me tanta coisa pela cabeça enquanto caminhava para o barco. Pensei no que me prendia em terra. Desde as crises do meu pai até mim mesma. Uma lágrima percorreu-me a face. Olhei para o mar e entrei no barco. “Fugir dos problemas não é solução.” Não estás presente, mas eu oiço a tua voz a zumbir na minha cabeça. Em cada gesto meu penso no que tu irias dizer sobre ele. Mas agora não me interessa, agora vou entrar no barco. Agora, agora, neste momento, neste segundo, nesta hora, eu vou deixar o que tu pensas para trás. Vou olhar para a frente, e ver. O horizonte talvez. Aquela linha ténue que divide o mar do céu. O barco já está a velejar. Estou sentada na proa. São 19:33, ainda vou a tempo de ver o por do sol.
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música: Go , let me go
publicado por Lébasi às 19:37